Volume 2

Situação de Aprendizagem 1

 
       CARÁTER CULTURALMENTE CONSTRUÍDO DA HUMANIDADE                                                      
 
 

 

 
 
 
Nas fotos acima, vemos que outros animais também vivem em grupos.
 
 
Nas fotos mostradas, vimos que outros animais também vivem em grupos. As fotos não mostram, mas sabemos que cada um deles passou por um pequeno processo de socialização para poder viver com o grupo e que portanto, não pode simplesmente agir conforme a sua vontade.
 
Logo, os animais também vivem em sociedade, assim como nós.
 
Mas os animais não são totalmente iguais a nós, apesar de muitos viverem em grupo e precisarem aprender a viver juntos.
 

O que vocês acham que nos distingue dos outros animais?Esta sensibilização tem como objetivo introduzir na discussão deste bimestre, cujas questões centrais são: O que nos une como seres humanos? O que nos diferencia? Verificaremos que o que nos une como seres humanos é também o que nos diferencia e que isso nada mais é do que o fato de sermos seres culturais.

O homem existe como ser social e, por isso, passa por um processo de socialização primária e secundária à medida que cresce. Dessa for ma, ele se insere em um grupo e na sociedade.

Observa-se que outros animais também vivem em grupo, mas sabemos que cada um deles passou por um pequeno processo de socialização para poder viver com o grupo e que, portanto, não pode simplesmente agir conforme a sua vontade. Logo, os animais também vivem em sociedade, assim como nós.

Mas os animais não são totalmente iguais a nós, apesar de muitos viverem em grupo e pre cisarem aprender a viver juntos.

O que nos distingue dos outros animais?

O que nos distingue dos outros animais é o fato de que temos cultura e os animais, não. Ou seja, muitos deles se organizam em grupos para viver, mas isso não os diferencia de nós, seres humanos.

O que é natural no ser humano?

O que nos une como seres humanos? e O que nos diferencia?

Estas pergunta escrita não será totalmente respondida em uma aula, pois, para compreender o que une e o que diferencia os seres humanos, terão, primeiramente, que refletir sobre o que é natural para o ser humano, qual é a relação que temos com nossos instintos e o que é que nos separa dos outros animais.

 

O que é natural no ser humano: a sua capacidade para a diferenciação.

O que todos nós temos em comum é a capacidade de nos diferenciarmos uns dos outros e de vivermos essa experiência, que é a de ser humano da forma mais variada possível, por meio da imersão nas mais diferentes culturas. Logo, o que nos liga são as nossas diferenças, e elas são dadas pela cultura.

Os homens e a natureza

O que consideramos como natural em nós é, de fato, cultural, o que parece ser óbvio não o é.

Toda cultura é uma construção histórica e social. Nossos hábitos, costumes, maneiras de agir, sentir, viver e até mor rer são culturalmente estabelecidos. Dizer que eles são uma construção não é aleatório. Pois construção tem a ver com montagem, com algo que passa pela mão do homem, que não está pronto, ou seja, que não é dado pela natureza, mas, sim, que passa por algum processo até se transformar no que é.

É histórica porque varia de uma época para outra, porque demorou muito para ser o que é.

É social porque é partilhada por um grupo.

Grupos humanos diferentes, portanto, têm culturas diferentes; isso significa dizer que quase nada no homem é natural. É necessário compreender que, se um comportamento é considerado natural para uma sociedade e não para outra, isso significa que ele não é natural e, sim, cultural.

Se apenas um grupo ou alguns grupos consideram uma forma de agir, pensar e sentir como natural, então pode ter certeza de que não se trata de algo natural e, sim, cultural. Tudo o que é natural para uns e não para outros, não é natural. Pois natural seria o que faz parte da natureza humana, ou seja, deveria ser o que é compartilhado por todos os seres humanos.

Será que existe uma natureza humana que seria a mesma para todos? Para os antropólogos está claro que não há uma natureza humana única e imutável. É fato que a cultura nos molda como uma espécie única, e ela também nos modela como indivíduos separados (GEERTZ, 1989). Ou seja, não há ser humano que possa existir sem estar imerso em uma determinada cultura. Somos todos seres culturais. Pode-se dizer que não há uma natureza humana igual para todos os seres humanos, para além da constatação de que todos temos a capacidade de ser diferentes entre nós.

Não é natural:

Vestir jeans e camiseta

Comer arroz e feijão

Casar de branco

Enterrar os mortos

 

Em outras culturas:

O jeans e a camiseta não são roupas naturais para o ser humano. Na Índia, por exemplo, é comum as mulheres usarem o sari; já no Brasil, muitos povos indígenas andam nus

Comer arroz e feijão também não é algo natural, existem grupos no deserto que se alimentam de gafanhotos, e o escargot (tipo de lesma) é uma iguaria na França

Na nossa sociedade a noiva veste-se de branco, mas em muitas sociedades a cor da roupa da noiva não é o branco

Não são todos os povos que enterram seus mortos. Os indianos, por exemplo, costumam queimá-los

Como para alguns pode ser difícil aceitar que nossas maneiras de agir, pensar e sentir não são naturais, vamos expandir a argumentação, o simbolismo das cores também não é natural. Isto é, tal simbolismo é fruto do senso comum e de crenças de cada cultura e por isso mesmo pode variar de uma cultura para a outra. Ou seja, é costume associar as cores a diferentes emoções, estados de espírito, ou acontecimentos, como se isso fosse perfeitamente natural a todos os seres humanos, o que de fato não é verdade.

Como exercício reflita o que cada uma das cores a seguir, pode usualmente simbolizar no Brasil.

Amarelo- Ouro, riqueza, dinheiro

Vermelho- Paixão, amor

Preto- Morte, escuridão, trevas Amor

Branco Pureza, vida, luz, paz etc.

 

Porém o branco e do preto esse simbolismo pode mudar muito, dependendo da cultura de um povo.

Muitos povos orientais não associam o branco à vida e à luz. Para eles, o branco "naturalmente" é associado à morte e é usado como cor de luto. Nas culturas ocidentais, como é a nossa, ocorre o contrário. Associamos "naturalmente" o branco à luz, ao sol e à vida, e o preto, às trevas, à escuridão, à noite e à morte.

Nenhuma dessas associações é natural ao ser humano, pois, caso isso fosse realmente natural, todos os indivíduos, em todas as sociedades, fariam as mesmas associações. Se isso não ocorre, é por que quase nada é natural no ser humano, e o simbolismo das cores é um exemplo de como o que muitos consideram como "natural", na verdade, é fruto de uma construção histórica, social e cultural.

Etnocentrismo e relativismo cultural

Para podermos aprofundar na discussão sobre o homem como ser cultural, devemos discutir a respeito de duas posturas: a do etnocentrismo e a do relativismo cultural. O primeiro refere-se a uma postura que temos e que deve ser evitada e o segundo, uma postura metodológica sugerida quando alguém quer olhar outro povo ou grupo diferente do seu.

Leia com atenção a seguinte frase: 

"[ ... ] cada qual denomina de bárbaro o costume que não pratica na própria terra" I.

Montaigne, um filósofo do século XVI.

Essa frase nos mostra que todos nós olhamos para o mundo com os olhos ou as lentes dados por nossa cultura. Por meio dela olhamos o mundo e avaliamos os outros. Isso se chama etnocentrismo.

Provavelmente, essa é uma palavra que pouco ouvimos, muitos não conhecem e um termo muito importante, primeiro é preciso que compreendem da frase de Montaigne:

O que ele quis dizer com isso?

 

Observa-se sobre o sentido do termo bárbaro. Bárbaro pode ser usada de várias formas:

a) "Nossa, olha só que roupa legal! Ela não é bárbara?" ou

b) "O que esse homem fez com os reféns foi um ato bárbaro e cruel!".

Mas:

a) a roupa é bárbara porque é ... , e em,

b) o que o homem fez é um ato bárbaro porque ...

Na primeira frase, a roupa é bárbara porque é legal, moderna, diferente etc. Essa primeira conotação do uso do termo tem um sentido positivo. Já a segunda frase mostra o uso do mesmo termo, mas com uma conotação negativa. Bárbaro ali é alguém que fez algo muito ruim para as outras pessoas, algo que quase não é considerado humano.

Origem palavra

A palavra bárbaro é de origem latina. Os romanos a usavam para designar todos os povos que não eram romanos. Todos os que não fossem romanos seriam bárbaros. Com o tempo essa palavra adquiriu a conotação de alguém que age de forma errada, imprópria, quase não humana.

A frase de Montaigne fala sobre o etnocentrismo.

Talvez se lembrem da discussão feita na aula de Filosofia; o sentido etimológico da palavra etnocentrismo:

etno = é uma palavra grega que significa povo.

centr = vem de centro.

ismo = sufixo que designa prática de algo.

Etnocentrismo é a postura segundo a qual você avalia os outros povos a partir de sua própria cultura.

Nesse sentido, todos nós somos etnocêntricos Uns mais e outros menos. O problema do etnocentrismo é que ele não nos permite compreender como os outros pensam, já que de antemão eu julgo os outros conforme os meus padrões, de acordo com os valores e ideias partilhados pela minha cultura. E isso é um problema quando se quer compreender o outro, quando se quer pensar sociologicamente. Logo, o etnocentrismo é uma postura que devemos evitar.

 

Como evitar os próprios valores; Como evitar nossa maneira de agir, pensar e sentir.

Na Antropologia há um recurso metodológico para isso e ele tem a ver com uma atitude mental que os pesquisadores adotam diante do que é diferente.

O antropólogo deve tornar exótico o que é familiar e tornar familiar o que é exótico. Ou seja, é preciso assumir uma postura de distanciamento ou afastamento diante de seu modo de pensar, agir e sentir. Ela está ligada ao estranhamento. É tentar se colocar no lugar do outro e compreender como ele pensa. Isso é o relativismo cultural. Essa atitude não é fácil, pois são poucas as pessoas dispostas a questionar ou ao menos deixar de lado sua maneira de agir, pensar e sentir.

 

Por que é tão difícil para nós nos colocarmos no lugar do outro?Por que até hoje nós confundimos diferença com inferioridade?Por que ao olhar alguém que se veste diferente e tem hábitos diferentes a nossa tendência é tachá-lo como inferior?

Provavelmente isso é próprio do ser humano; que tem a ver com egoísmo, ou com individualismo; isso está relacionado à nossa cultura, pois estranha o que é diferente. Mas talvez se esqueçam de que uma das razões mais importantes para termos uma postura etnocêntrica está ligada ao medo. Medo do outro e, acima de tudo, medo de nós mesmos.

 

Por que isso está ligado ao medo?

Porque, quando nós dizemos que o outro é inferior, automaticamente nos colocamos em uma posição de superioridade. E, se somos superiores, somos os corretos, os melhores. Logo, não precisamos questionar nossa maneira de agir, pensar ou sentir. Pois, quando olhamos o outro e procuramos genuinamente compreendê-lo na sua diferença, muitas vezes não olhamos somente para este outro. Olhamos também para nós mesmos. Ao aceitar o outro na sua diferença, muitas vezes somos levados a refletir sobre nós. Verificamos que existem outras possibilidades de existência, outras formas de ver e pensar o mundo e que a nossa é uma entre muitas. Não é a única possível e talvez nem a melhor.

 

E por que não queremos fazer isso?

Porque aceitar o outro na sua diferença leva muitas vezes a refletir sobre a própria existência, e as pessoas nem sempre estão preparadas ou simplesmente não querem rever ou repensar seu ponto de vista. Gostamos de achar que esse ponto de vista é o único possível, pois assim esquecemos que é somente uma possibilidade, uma entre outras. Com isso fugimos da responsabilidade de pensar sobre as escolhas que fazemos dizendo que: "não temos escolha", que "o mundo deve ser assim", "sempre foi assim", "não há o que mudar" e que o "diferente está sempre errado", "é sempre inferior".

Ter essa atitude não significa deixar de ser quem você é, e sim, aceitar o outro na sua diferença, colocar-se no lugar do outro. A essa postura damos o nome de relativismo cultural.

 

Relativismo cultural

O relativismo cultural é a postura segundo a qual você procura relativizar sua maneira de agir, pensar e sentir e assim se colocar no lugar do outro. "Relativizar" significa que você estabelece uma espécie de afastamento, distanciamento ou estranhamento diante de seus valores, para conseguir compreender a lógica dos valores do outro.

Um importante antropólogo chamado Claude Lévi-Strauss pode nos ajudar nesta discussão sobre o etnocentrismo. Em um artigo que escreveu em 1952 para a Unesco, ele disse que a interpretação e a visão da diversidade se faz em função da própria cultura, e para essa discussão ele usa como metáfora explicativa o trem e o andar do cavalo no jogo de xadrez (LÉVI-STRAUSS, 1980). Ele comparou as culturas com os trens, para falar do etnocentrismo, e, ainda, o desenvolvimento das culturas com o andar do cavalo no jogo de xadrez.

 

Ler com atenção e Reflita

O cavalo no jogo de xadrez anda em L, ou seja, duas casas para a frente e uma ou para a direita ou para a esquerda, ou pode andar uma casa para a frente e duas para a esquerda ou para a direita.

Claude Lévi-Strauss é um dos mais importantes antropólogos do século XX. Ainda jovem, em 1934, veio ao Brasil e ajudou a fundar a Universidade de São Paulo (USP). Ele fez pesquisas em Mato Grosso com os índios Bororo e Kadiwéu, entre outros. Quatro anos depois, foi embora do nosso país e desenvolveu, posteriormente, uma das mais importantes correntes da Antropologia: o estruturalismo. Em 1952, a pedido da Unesco, ele escreveu um artigo chamado Raça e história, em que criticava a ideia de raça e o etnocentrismo entre os povos, além de outros pontos.

Para falar sobre a ideia de que existiriam culturas que não se moveriam ou se transformariam e o etnocentrismo, ele deu o exemplo do viajante do trem: imaginem que cada cultura é um trem e nós somos os passageiros. Nós olhamos o mundo a partir do nosso trem.

Mas os trens caminham em direções opostas, em diferentes velocidades. Um viajante verá de modo diverso um trem que vai ao sentido contrário, um trem que ultrapassa o seu ou outro que caminha em uma outra direção.

 

Qual é o trem que nós podemos olhar melhor?

Aquele que caminha na mesma direção que o nosso e na mesma velocidade, ou seja, de forma paralela.

Mas, se cada trem é uma cultura, sabemos que as culturas não caminham todas na mesma direção e nem na mesma velocidade. Umas caminham mais rápido, outras caminham em direções quase opostas. As culturas possuem formas diferentes de observar o mundo. Cada uma tem o seu caminho, a sua direção e a sua velocidade. Se uma nos parece parada, isso ocorre porque não conseguimos compreender o sentido do seu desenvolvimento.

É aquela que caminha paralela à nossa que nos permite a melhor observação, e que nos fornece a auto identificação. Mas quem é que pode dizer qual é a melhor direção? O caminho mais avançado? Será que o que parece parado para nós está realmente parado? Como saber?

Na verdade, com isso ele quis dizer que é muito difícil para alguém de uma determinada cultura querer avaliar alguém de outra cultura. Pois, já que a minha cultura é como um trem, muitas vezes não consigo enxergar e compreender o que se passa nos outros trens (nas outras culturas). Isso ocorre porque as culturas não têm todas elas as mesmas preocupações e nem os mesmos objetivos. É mais fácil entender a cultura que mais se parece com a nossa, ou seja, aquela que anda de forma paralela à nossa, partilhando os mesmos interesses e a mesma direção. Mas, como as culturas são diferentes, se muitas vezes não conseguimos compreender uma delas, não é porque ela esteja parada, ou errada, e sim, porque a direção que ela toma muitas vezes não faz sentido segundo a nossa lógica de raciocínio.

Lévi-Strauss diz, ainda, que as culturas se desenvolvem como anda o cavalo no jogo de xadrez.

No jogo de xadrez cada peça caminha de uma maneira: a torre em linha reta, o bispo na diagonal e o cavalo em L, ou seja, aos saltos. Logo, se as culturas andam em L ou aos saltos, elas não andam todas em linha reta, nem seguem todas a mesma direção. Cada uma segue um sentido e uma linha de raciocínio que lhe é própria. É equivocado considerar errada e pouco evoluída a cultura que segue uma direção diferente da nossa, como se todas devessem seguir a mesma direção, como se todas devessem andar da mesma forma. Cada cultura tem seus interesses próprios e, assim, um ritmo, velocidade e direção de desenvolvimento que são seus. Não andam, ou se desenvolvem, em linha reta.

 

O que é mais importante para um pigmeu?

Mais importante do que saber quem descobriu o Brasil, ou quais sãos os tipos de clima do mundo, é saber quais plantas são comestíveis e quais são venenosas, quais podem ser usadas como remédio e quais não podem. Para um brasileiro que almeja se tornar advogado, mais importante é adquirir os conhecimentos necessários para entrar na faculdade. Conhecer quais são as plantas venenosas numa floresta pode não lhe ser de muita utilidade. Logo, o que é importante saber, varia de um ponto para outro. Homem que pertence a uma etnia da África Central e que possui baixa estatura.

 

Metáforas usadas por Lévi-Strauss

Assim, por meio das metáforas usadas por Lévi-Strauss é possível refletir que as culturas não são só diferentes entre si, mas são também difíceis de ser compreendidas e avaliadas. Cada uma fornece uma visão de mundo, uma maneira de observar a realidade, de viver e de pensar. E, se quisermos realmente compreender o outro, devemos ter consciência disso e adotar, na medida do possível, o relativismo como uma postura metodológica que nos ajude a nos desvencilhar do etnocentrismo.

 

Situação de Aprendizagem 2

Por que somos diferentes?
Uma rápida leitura da constituição brasileira mostra o quanto somos iguais em direitos e deveres, mesmo vivendo num país continental e de influências culturais variadas e ricas. No cotidiano, porém, os preceitos constitucionais nem sempre são respeitados, nem colocados em prática.

     A pessoa como ser vivo é mais que uma simples realidade biológica. Ela é definida por uma inserção social, marcada por influências e determinantes culturais, por valores e contravalores... As sociedades, ao longo de sua história, movem-se em base de preconceitos sociais, raciais, religiosos e políticos, dificultando, muitas vezes, o respeito às diferenças e à integração necessária ao desenvolvimento do ser humano. 


Diferença, não desigualdade

     Importa estabelecer aqui uma definição clara que pode nos ajudar a entender melhor os processos sócio-históricos e suas complicações. As diferenças são naturais porque providenciadas pela natureza; nem todos são magros, altos, brancos. Mas as desigualdades sempre são fruto da ação humana. Alguém nasce e vive pobre em função de uma estrutura que gera esse fenômeno. O erro está em invocar as diferenças como justificativa das desigualdades socioeconômicas, base da sociedade de classes, e em perpetuar as estruturas geradoras das desigualdades.
 
     O ser humano não pode ser concebido como mero indivíduo, apesar de sua peculiaridade genética. É também cidadão que integra uma coletividade, regida por preceitos ético-morais, que implicam na aceitação de regras e valores. O resultado desse processo vai configurando pessoas social, econômica, cultural e até religiosamente integradas. A razão abstrata muito nos diferencia em relação aos demais seres vivos do planeta e precisamos usar esta capacidade para elaborar o que constitui o tipicamente humano, a partir do que já dizia Sócrates no século 4 a.C.: “conhece-te a ti mesmo”. Estes universais mínimos não só qualificam nossas individualidades, mas também nos fazem crescer no espírito comunitário. É o caminho que nos torna mais pessoa, indivíduo, cidadão. Ainda, quanto mais convivemos com os demais seres, que também habitam nosso planeta, tanto mais humanizamos.
 
Pessoa, o valor supremo
 
     Somos iguais! As diferentes raças humanas são, na verdade, rótulos superficiais - uma diferença para justificar possíveis desigualdades - uma vez que, segundo a teoria evolucionista, viemos do macaco, ou então, segundo a fé cristã, Deus criou o ser humano, tendo como protótipos Adão e Eva. Os motivos pelos quais nos diferenciamos uns dos outros devem-se a diferenças ambientais, naturais, culturais, religiosas... A essência humana é a mesma para todos.
 
     Na visão cristã, a questão da igualdade, desde um ponto de vista religioso, começa no batismo. Esse sacramento nos torna filhos do mesmo Deus Uno e Trino sem, no entanto, negar as diferenças individuais, enfatizando a dimensão comunitária como forma de viver a plenitude humana. Embora os cristãos compreendam que exercem diferentes papéis na comunidade com o mesmo fim, nem sempre entendem que este fator não pode ser gerador de desigualdades, preconceitos ou discriminações.
 
     Para Kant, a pessoa é um valor supremo. Não é objeto, não tem preço, não pode ser trocada por outro objeto, nem utilizada como meio para alcançar qualquer fim. A dignidade humana exige o respeito incondicional de todos, indistintamente. O dever do respeito aplica-se a todos os seres humanos, sem exceção. Como ser livre e consciente, o ser humano existe de forma absoluta. Nesta perspectiva, é inaceitável qualquer tipo de humilhação e desvalorização do outro.



Questões para debate:
 
1) Reconhecer que ainda somos preconceituosos.
2) Reconhecer que todas as culturas têm aspectos positivos e negativos.
3) Aprender a conviver com as diferenças engrandece-nos e dignifica.
4) O que estou fazendo para mudar essa realidade?
5) Organizar um círculo de partilha e diálogo sobre nossos preconceitos e tentar mudar a convivência diária. 
 

 

Situação de Aprendizagem 3

Como o ser humano se tornou humano